A Constituição do SergLobal – Conexão ao Humano

Dr. Celso Mastrascusa

Há mais de 35 anos venho me dedicando ao estudo da Psicomotricidade e de suas interfaces, no ambiente Educacional, Clínico e Organizacional.

Conforme Mastrascusa (2011, p. 23): “A Psicomotricidade não é vista como uma técnica que possa ser aplicada da mesma forma, nos mesmos ambientes, e sim melhor definida como um método, onde seus passos possam ser constantemente atualizados às situações que vão sendo vivenciadas”.

Toda essa gama de conhecimento e de informação, trouxeram a capacidade de olhar a Educação e a Saúde por outra perspectiva. A perspectiva das possibilidades de cada sujeito em relação à sua capacidade de superar os obstáculos, sejam esses em quaisquer esferas, com vistas a, cada vez mais, ir ao encontro da via para CONEXÃO AO HUMANO.

Se faz necessário então apresentar esta metodologia, a maneira como essa visão da Educação e da Saúde se constitui diante desta nova perspectiva. Desta forma, apresentarei a construção teórica que venho elaborando em meu percurso profissional, na qual procuro detalhar, através de um modelo heurístico representado por um CATAVENTO, a possibilidade da abrangência da Psicomotricidade no ambiente Educacional, Clínico e Organizacional.

Para compreender esse modelo de Visão Global do Ser ou de Conexão ao Humano ou de SergLobal, imagine um CATAVENTO (fig. 1) com três pás. No centro do CATAVENTO estão os fatores socioafetivos, pois é a partir desse foco que todo aprendizado e desenvolvimento do ser humano acontecem ou deixam de acontecer. É esse que faz a “liga” das pás para que se movimentem. Portanto, a base desse modelo se situa nos fatores socioafetivos, partindo do pressuposto de que por meio das relações, do ambiente afetivo e das suas características pessoais, pode-se qualificar o aprender/ensinar e o desenvolvimento global do ser humano em busca de sua autonomia. Destaca-se o fator imponderável do inconsciente nesses ambientes como essencial para as aprendizagens.

As pás do CATAVENTO representam o plano PSICOMOTOR, em que o movimento é o propulsor das ações e de nossas vivências, atuando de forma livre, espontânea e criativa, valorizando, ainda, a expressividade psicomotora, suas capacidades, habilidades, possibilidades e potencialidades. Cada uma das pás representa o desenvolvimento do Esquema Corporal, Coordenações e Percepções, fatores que dão a base para nosso movimento expressivo.

O plano “COGNITIVO” está representado por uma das setas na ponta das pás, como sendo o “vento” produzido pelo movimento do CATAVENTO. As questões cognitivas, como raciocínio lógico, resolução de problemas, construção de estratégias e criatividade são ressaltadas com a busca da reflexão e do pensamento crítico, as quais são fundamentais para a conquista de objetivos do sujeito ou do grupo. Além disso, através da inteligência criativa fica evidente a resolução de problemas, vencendo obstáculos, superando seus medos e frustrações, a partir da construção e da desconstrução de projetos, por meio de situações que favoreçam a comunicação para a autonomia do sujeito em prol do coletivo.

Resta apresentar a “ESPIRITUALIDADE”, ou seja, na plenitude desse termo, mais que uma religião, está a conexão ao todo holístico e também o desenvolvimento dos valores, como por exemplo, de solidariedade, de respeito às diferenças, de fraternidade, de cooperação, de sustentabilidade, de compaixão, com atitude proativa e participativa, respeitando para ser respeitado. Essa Espiritualidade, representa o conectar com a natureza que fazemos parte, o qual é evidenciado no CATEVENTO e é sinalizado por outra seta na ponta das hélices.

Complementando a terceira seta, está presente o termo “OUTRO”, que significa os objetos e as pessoas, os quais formam o ambiente externo onde nos relacionamos. Por sua vez, o “MOVIMENTO” propulsor do contato e de trocas com o ambiente, completa a formulação deste modelo heurístico.

Percebo, pela minha vivência como professor e como psicomotricista, o quanto, na maioria das aulas ou das sessões – e agora me referindo ao ambiente Educacional, deixamos de tratar daquilo que realmente traz consequência a nossos alunos, ou seja, O DESPERTAR PARA O PRAZER DE APRENDER A APRENDER.

Podemos estender essa reflexão aos demais ambientes, Clínico e Organizacional. Pensando que na clínica, muitas vezes, o “problema” ou o “rótulo” estão acima de qualquer questão, como se não existisse o desejo naquele que busca atendimento, seja por qual necessidade for. No ambiente organizacional o foco no resultado imediato, muitas vezes, se sobrepõe às necessidades dos colaboradores. Pequenos ajustes nas condutas de gestão poderiam solucionar e favorecer a maior produtividade, justamente pelo fato de gerar maior engajamento nos processos de produção e de desenvolvimento do negócio.

Precisamos que a Educação evolua e desenvolva no sujeito aprendente esse prazer de aprender, com brilho nos olhos pela descoberta do novo, isto é, aprender com consequência para a vida. E a criança sabe muito bem, pois seu desejo de correr, de pular, de rir, de brincar, de rolar, de passar obstáculos, de ficar de cabeça para baixo e de se divertir é natural e espontâneo. A criança sabe que é assim que se aprende verdadeiramente e para toda a vida. Aprender com emoção! Ser feliz!

As crianças da Educação Infantil ensinaram-me que o seu maior desejo era se divertir em minhas aulas. E eu tentava fazer de minhas aulas uma experiência única para cada uma delas, experiência em que a cada momento surgiria o imprevisível. Esse imprevisível terá suas possibilidades de surgimento, ou não, muito mais pela postura do adulto (professor, psicomotricista, atendente, recreacionista) do que pelo conteúdo, técnica ou organização do ambiente em que se ensina.

Senão, vejamos: a partir de fragmentos do texto “Desaprender a lição” que Afonso Romano de Sant’Anna, poeta, em seu discurso na formatura de uma turma de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, utilizando a citação da obra “Aula”, de Roland Barthes, propõe à plateia:

[…] o professor pensa ensinar o que sabe o que recolheu nos livros e na vida. Mas o aluno aprende do professor não necessariamente o que o outro quer ensinar, mas aquilo que quer aprender. Assim o aluno pode aprender o avesso ou o diferente do que o professor ensinou. Ou aquilo que o mestre nem sabe que ensinou, mas o aluno reteve. O professor, por isto, ensina também o que não quer algo de que não se dá conta e passa silenciosamente pelos gestos e paredes da sala. Assim o melhor professor seria aquele que não detém o poder nem o saber, mas que está disposto a perder o poder, para fazer emergir o saber múltiplo. Nesse caso, perder é uma forma de ganhar e o saber é recomeçar […].

A união desses pensamentos e reflexões fizeram surgir então a SergLobal, a união do Ser (humano, falível, disposto a aprender com o outro e com a relação na sua incompletude, em suas falhas, suas possibilidades, suas carências e iluminações) e o gLobal (globalidade, integralidade, complexidade, união pensamento-ação, totalidade) escrito com um “L” maiúsculo representando a palavra Loser (perdedor, fracassado, derrotado, vencido), apresentando nesta visão a importância das diferenças, ressaltando e afirmando que TODOS somos diferentes, temos necessidades e possibilidades diferentes, portanto somos singulares e devemos ser respeitados em nossas escolhas e posicionamentos diante do Mundo.

Em 2015 com a vinda da psicomotricista e formadora Núria Franch para uma Jornada organizada pela SergLobal em Porto Alegre, iniciamos uma mudança em nossos pensamentos sobre o termo Psicomotricidade, sem a necessidade de adjetivos. Nesta concepção organizamos toda a estrutura de nosso Pós-graduação em PSICOMOTRICIDADE, juntando-se a esta estrutura do Método SergLobal os psicomotricistas e formadores Aurélio Soares Mendonça e Cristiano Kapper Ramos, dando início em 2018 com a primeira Turma que inaugura a formação com esta concepção metodológica.

A SergLobal se constitui como uma desenvolvedora da via para CONEXÃO AO HUMANO em seus ambientes Educacional, Clínico e Organizacional, elevando o nível do desenvolvimento pessoal e colaborativo, qualificando sua vida de relações sejam pessoais, familiares ou profissionais, com base nos pressupostos da psicomotricidade e em nossa expertise teórico – prática sempre associadas.

Contamos com uma equipe de psicomotricistas altamente capacitados e sempre em busca do novo e de atualização na realização de projetos e parcerias.

Parcerias estabelecidas:

Psicomotricista e Formador
PhD Jorge Manuel Fernandes Évora, Portugal

Psicomotricista e Formador
Dr. Juan Mila
Montevideo, Uruguai

Psicomotricista e Formadora
Me. Núria Franch
Barcelona, Espanha

Magalean

Psicomotricista e Formadora
Esp. Arantxa Irastorza
San Sebástian, Espanha

Psicomotricista e Formadora
Dra. Laura Bettini
Padova, Itália

Psicomotricista
Me. Leonardo Leblond Miranda
Anglet, França